Percebe-se uma figura carismática quando ela chama a atenção pela maneira como se apresenta e fala. De repente, cria-se entre ela e os receptores (assistentes, ouvintes, telespectadores) uma empatia, que é um fenômeno além da simpatia. Nos processos empáticos, a fonte expressa a capacidade de ingressar na maquinaria de pensamento e interpretação do receptor, de forma tão intensa que esse não apenas entende tudo que é exposto, mas aceita as mensagens introjetadas. Gera-se um circuito de interesses recíprocos entre fonte e interlocutor, a ponto de se considerarem "amigos de longa data, velhos conhecidos", por mais que eles tenham se conhecido há poucos minutos.

A pessoa carismática cria ao seu redor círculos de energia, atraindo pequenos grupos e plateias. Não a em brancas nuvens como a maior parte das pessoas.

Jesus Cristo, Buda, Maomé e Gandhi são exemplos de figuras carismáticas. O Cristo que conhecemos chama a atenção pelo visual, pelo discurso, pelas parábolas, pela história maravilhosa de seu nascimento e criação e, sobretudo, pelo calvário e sacrifício para salvar a humanidade. É uma história deslumbrante cercando uma imagem plena de virtudes. Gandhi encantava pelo despojamento, pobreza e sabedoria. Mas, no catálogo do mal, há pessoas que também podem ser consideradas carismáticas.

Hitler é uma delas. Tratava-se de uma usina de surpresa, emoção, susto, empolgação, furor e identificação com valores de uma sociedade em ebulição (raça, poder, força, dominação). Já o presidente Kennedy encantava com o charme pessoal que irradiava juventude, poder, riqueza, fatores que confluíam para o sonho norte-americano da pátria-berço da prosperidade e bem-estar social.

Getúlio Vargas tinha carisma a partir do jeito sulista de se expressar, do estilo de governar e das ações istrativas que descortinaram a política de massas. Mas é Juscelino Kubitschek, com seu sorriso aberto e cordial, o nosso carismático político por excelência. E, para arrematar, era embalado pela modinha mineira "Como pode o peixe vivo viver fora d’água fria?". Jânio também tinha carisma. Os gestos, as palavras pronunciadas com os "és" fechados, a voz da autoridade firmada, reconhecida e respeitada, o jeito desabrido de ser, tudo em Jânio chamava a atenção. Jânio era uma incógnita. E Fernando Henrique? Não exibe carisma. Trata-se de um scholar, um intelectual orgânico, preparado, um exemplar da mais racional estirpe weberiana (de Max Weber, o alemão que estabeleceu os princípios determinantes da legitimidade, quando analisou o fenômeno da burocracia).

E, nesse ponto, cabe indagar: Lula tem carisma? É, sim, um líder carismático. Brizola, por exemplo, não tinha muito, mas expressava boa dose de carisma. Tinha um jeito especial de falar, de gesticular, de fazer pausas e ênfases. Era uma figura emblemática. Miguel Arraes tinha carisma.

Agora, aqui pra nós, Serra e Dilma não têm carisma. São perfis técnicos. Marina tem mais carisma que ambos.